Competência CONVERSAS DIFÍCEIS: e o dia em que eu quase perdi um dos meus melhores amigos

Eu sempre achei que, para o líder, uma das principais competências para gerir uma equipe de alta performance fosse a Gestão do Conflito. Entretanto, com a minha experiência, posso te dizer que fazer essa gestão e encarar conversas difíceis faz parte da vida de todo mundo que tem como prioridade solucionar os problemas em prol de um objetivo maior, independentemente do ambiente de trabalho.

Bonito, não? Na teoria sim, mas na prática as coisas são um pouco mais complicadas.

Eu sempre me achei forte, desenrolada e próxima de uma super heroína dos tempos modernos: sou profissional, esposa, mãe de duas meninas, duas cachorras e 34 plantas. Além disso, pratico atividade física regularmente e sou uma leitora da categoria “devoradora”. Eu já trabalhava com desenvolvimento de lideranças e acreditava ser inadmissível um líder fugir de conflitos. 

Gestão de Conflitos, Feedback e Conversas Difíceis eram temas que sempre estavam em pauta nas minhas formações de liderança, sobretudo, primeira liderança: “eles precisam superar esse GAP”, pensava eu.

Acontece que, em um belo dia, em uma equipe da qual eu fazia parte, onde a base dos relacionamentos era a confiança e todos compartilhavam tarefas e entregas dentro da expertise de cada um, um conflito “bobo” aconteceu. E, quando me dei conta, eu havia “discutido” por WhatsApp com uma das pessoas com quem eu mais tinha afinidade na minha equipe.

“Como ele poderia ter feito aquilo comigo?”

“Eu me desdobrei para ajudá-lo, ele conseguiu desenvolver um produto maravilhoso totalmente arquitetado por mim e ele simplesmente ignorou isso…”

Naquela sexta-feira, brava, inconformada, “soltei os cachorros” no meu amigo e desliguei o celular por um final de semana. Eu estava me sentia extremamente chateada, magoada, com meu senso de justiça ferido. Além disso, passava por alguns problemas pessoais pesados… {sim, o ser humano tem dessas, quando aparece um problema ele traz uma grande avalanche junto}.

Uma nova semana se iniciou e eu fugi a semana toda do meu amigo de trabalho que, pra ajudar, se sentava bem na minha frente… e ele, inclusive, fez o mesmo.

O cenário era típico da educação infantil, bem ou mal, aquela situação me angustiava, por mais “infantil” que pudesse parecer. Mas, nesta situação, eu não poderia chamar a professora pra resolver.

Em determinado momento, eu pensei: “Caramba, isso está me incomodando. É sério que eu estou sofrendo por isso?”

“Por que eu estou sofrendo?” Me perguntei.

“Porque eu tô cheia de problemas, me desdobrei pra ajudar meu amigo, ele fez um super projeto e agradeceu a todo mundo quando o projeto brilhou e ele sequer me agradeceu.”

“O que dói mais? Meus problemas pessoais ou o que ele fez?”

“Meus problemas pessoais, obviamente.”

“Você acredita que seu amigo fez o que fez com a intenção de te machucar, Simone?”

“Não, ele não é assim. Mas ele fez e me chateou.”

“Se você o considera como acredita que o considera, por que está aí sofrendo e deixando a proporção desse problema ficar ainda maior?”

“Já pensou que ignorá-lo para sempre pode ser uma ruptura sem volta? Refleti”

“Calma, não é pra tanto!”

“Isso já aconteceu anteriormente com outros amigos que você considerava? Caramba, já e eu nunca havia me dado conta disso!”

“Eu gosto dele, estou chateada mas não quero perde-lo, ele é um amigão, de verdade – apesar de ter agido de forma estúpida…”

Neste momento, percebi que perder amigos por não encarar conversas difíceis era um ciclo que se repetia na minha história de vida – desde a adolescência – e eu nunca tinha me dado conta disso.

Diagnóstico percebido: “Legal, Simone. Acredito que você tenha medo de conversas difíceis e dificuldade em gerir conflitos.”

Como todo processo de gestão de mudança, meu primeiro sentimento foi o de NEGAÇÃO. Eu sou aquela que ensina as pessoas a gerirem conflitos e a encararem conversas difíceis, como eu poderia ter essa fraqueza (considerada estúpida até a plena consciência)?

A verdade é uma só: é muito fácil falar e ensinar sobre gestão de conflitos quando falamos do outro, quando falamos de alguém com quem não temos qualquer relação afetiva ou envolvimento emocional.

Ao tomar consciência da minha fraqueza, pensei: de que valem os insights se eles não te impulsionarem para ação?

Eu já tinha o diagnóstico do estado atual e precisava trabalhar para o estado desejado. De forma imparcial, se eu ouvisse essa narrativa de um terceiro, um de meus líderes em desenvolvimento. O que eu diria a eles?

“Entendo sua angústia e frustração, caro amigo. Mas você só chegará ao estado desejado se tiver um Plano de Ação. E, neste momento, esse plano é prioridade.”

Era domingo e foi necessário estruturar meu plano de ação pensando em planos de contingência. Então, com o objetivo em mente, montei o passo a passo:

Objetivo: Fazer as pazes com o meu amigo e voltar ao relacionamento baseado em confiança que sempre tivemos.

1.      Chamar o meu amigo para conversar;

2.      Mostrar a minha visão sobre os fatos e o meu contexto de vida atual.

3.      Explicar como eu interpretei as atitudes deles;

4.      E quais foram os impactos disso, na minha visão, para a entrega, para a equipe e para o nosso relacionamento.

Certo! Cheguei no trabalho e, antes de me sentar, já chamei o meu amigo para conversar no café.

Confesso que foi o caminho mais demorado da minha vida, de fato, essa não era a minha fortaleza. Fui pronta para um feedback, quando evoluímos para uma conversa difícil.

Segui o plano e contei para o meu amigo a minha visão do que havia ocorrido, contei para ele meu contexto de vida e como me senti após o desenrolar da história e ele me contou a visão dele.

Sim, tivemos uma grande falha de comunicação, todas as atitudes de erro foram falhas, não tinham intenção de causar os efeitos que causaram. Ficou claro que o meu amigo não tinha como se lembrar de algo que ele não sabia – e ele lamentou sinceramente por ter causado em mim todo aquele mix de sentimentos… sim, eu havia julgado, condenado e ignorado meu parceiro sem sequer ter dado abertura para que ele se posicionasse.

E, ao final da conversa, nos desculpamos e voltamos a ser amigos pau pra toda obra como sempre fomos, talvez até mais fortes do que antes, afinal, tínhamos renovado a confiança em nossa parceria – e eu sentia como se tivesse perdido 200 quilos sobre meus ombros. 

Hoje não trabalhamos mais juntos, mas meu amigo me ensinou por meio dessa situação que todos podemos errar, todos podemos estar passando pelo pior momento de nossas vidas em casa e tudo isso importa.

Às vezes “erramos a mão” na forma como reagimos aos estímulos surpresa, mas manter o foco no que é importante, ter a consciência de que os conflitos acontecerão e gerar um contexto de confiança para a resolução faz com que você reforce os laços fortes com seu time, que você estabeleça relações que vão além dos edifícios da empresa e corte qualquer possibilidade de algo pequeno tomar grandes proporções.

Não estou dizendo que será fácil: se essa não for a sua fortaleza, você precisará exercitar bastante, mas depois de passar por essa situação nunca mais deixei conversas difíceis para depois: as pessoas são as prioridades sim.

Espero que você, a partir de hoje, reflita na forma com a qual você se relaciona com as pessoas. Analise seu histórico de vida hoje, quantas pessoas você “deixou passar” por medo de conversas difíceis ou gestão de conflitos, empurrou… empurrou com a barriga e perdeu o time do acerto. Nunca é tarde para reaprender, para se desenvolver e, a partir de amanhã as coisas podem mudar… só dependerá de você!

Confesso que, no meu caso, valeu muito a pena!

Esse é meu amigo em uma das suas maravilhosas viagens pelo mundo. @victorintheworld

 

Simone Nomura
Simone Nomura
https://www.b6desenvolvimento.com.br

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *